A Balada da Bandoleira
(Resenha) A Balada da Bandoleira: High Noon
Se eu tivesse que resumir este livro em uma frase, seria uma
pergunta: “onde está seu deus agora?”. O que era uma mistura improvável se
provou a melhor ideia do ano. "A Balada da Bandoleira" é um épico que consegue
misturar o melhor de duas grandes escritoras e promete bagunçar muito mais do
que sua cabeça.
Depois de um duelo de vida e morte, Marysol (a Bandoleira) é
atirada em um outro mundo através de um portal aberto com magia de sangue e vai
parar entre os humanos; Ruan (o Maldito), seu combatente, também usou um portal
para o mundo humano, mas foi um mundo diferente daquele em que Marysol havia
sido atirada. Ela, confusa e sem memória, somente consegue se lembrar de que
estava perseguindo alguém e que precisava encontrar esse alguém e matá-lo. Ele
sabia muito bem o que queria, e também sabia que a Bandoleira estava em um
mundo diferente. A única coisa que ele não sabia é que havia se transportado
para um mundo de humanos. Nenhum dos dois acreditava que humanos existissem.
Pensavam que os humanos eram lendas, histórias da carrochinha que serviam
apenas para assustar as crianças de seu mundo.
Quando a Bandoleira percebe que está em um mundo diferente
do mundo do Maldito, ela começa a perseguir um portal para encontrá-lo. Consegue
abrir um e, depois disso, a perseguição começa. Não apenas ela persegue Ruan,
mas ambos procuram encontrar seus dublês no mundo humano, suas versões em uma
outra linha de tempo, porque esses dublês aumentariam suas forças e lhes dariam
uma vantagem na hora do duelo.
Primeiras impressões
Eu comecei a ler este livro cheia de expectativas. Já li
quase tudo da Fernanda W. Borges, e sou fã incondicional da B. Pellizzer, então
preparei meu chá de funcho, cruzei as pernas, ajeitei minha almofada no sofá,
respirei fundo e comecei. Quando terminei de ler o prólogo fiquei tipo: “o que
está acontecendo?”
Não vi nenhuma das duas no prólogo. Foi um prólogo suave,
quase, quase um primeiro capítulo de livro de autoajuda. Manja? Ame a si mesma
e toda aquela coisa... Aí eu fiquei tipo: onde estão os sequestradores malucos
e os traficantes de órgãos humanos da Fernanda? Cadê a falta de fé da B.
Pellizzer? Quero odiar sem sentir culpa, não aprender a amar a mim mesma!
Mas então eu fui para o primeiro capítulo e vi aquela mulher
ao lado daquela estrada de ferro, eu quase podia sentir o sol queimar a pele
dela, e ali, eu já comecei a enxergar as minhas escritoras. Enxerguei a B. Pellizzer
no calor do sol na minha própria pele, enxerguei a Fernanda no capricho de
explicar que tipo de roupa a moça desmemoriada vestia, e voltei a relaxar.
Aviso aos leitores: não pulem o prólogo. É no final do livro
que a gente entende a genialidade daquele prólogo, porque ele não é um retrato
de quem escreve, é de quem narra, e o narrador é uma personagem. Isso não é
spoiler. Vai ficar muito claro, já no primeiro capítulo, que o narrador é uma das
personagens do livro, e eu prometo, você vai ficar de queixo caído quando
descobrir quem é.
Os personagens
Eu gosto de vilões, me processem, e fiquei quase
metade do livro apaixonada por Ruan, o Maldito, até que seu dublê no mundo
humano apareceu. Se eu pudesse juntar os dois e fazer um só pra mim, eu
juntaria. Ruan é um personagem delicioso e engoliu a protagonista, como sói
acontecer com os melhores vilões.
Gostaram da palavra "sói"? Aprendi lendo o livro. Vantagens do dicionário do Kindle. Se você também não conhece essa palavrinha maravilhosa, clique aqui; se quer saber como conjugá-la, clique aqui.
Voltando ao Ruan, o (delicioso) Maldito, ele é cínico, canalha, e cheio de sarcasmo;
seu dublê humano, Rogério, é um médico que, sozinho, já havia descoberto a
possibilidade de viajar entre os mundos e tinha passado alguns anos de sua vida
procurando por um portal. A cena em que Ruan e Rogério se encontram pela
primeira vez é uma das passagens marcantes do livro. Memorável.
Não vou falar de todos os personagens, claro que não, só dos
seis protagonistas, para vocês saberem o que os espera.
Marysol, a Bandoleira, renegou a própria magia em seu mundo
porque achava muito fácil resolver as coisas com mágica. Ela preferia suas
pistolas e seus punhos e, acreditem, a moça sabe brigar. A única coisa mágica
que carrega consigo, é um violão antigo que ela nem sabe por que foi que
roubou.
Solymar, a dublê de Marysol, é uma barwoman que precisou
largar a faculdade depois que seus pais morreram. Ela é tímida e cheia de medo,
quase o oposto de sua dublê.
Ruan, o Maldito é um mago poderoso. Ao contrário da
Bandoleira, ele sempre valorizou a magia e passou a vida tentando se tornar um
mago melhor, seu objetivo é dominar a morte, tornar-se imortal.
Rogério, o Bendito, o dublê do Maldito, é um médico de QI
altíssimo que se acidentou em uma corrida de cavalos e ficou paraplégico. É o
personagem mais consistente da trama. Um ser humano cheio de desencontros e que
carrega uma ânsia de dominação muito parecida com a de seu dublê.
Tico (Thiago) é um menino de rua, e é ele quem torna possível que Marysol encontre Ruan. Ele estava presente em um dos momentos em que Ruan praticou suas maldades no mundo humano, e também estava presente quando Marysol atravessou o portal e caiu no nosso mundo. Uma cena maravilhosa! Vocês precisam ler.
Danielle é uma delegada, e é dublê da irmã de Marysol, é também "amiga" de Tico. É na casa de Danielle que Marysol estabelece seu quartel-general.
O que o livro tem de delicioso
Os diálogos. Em tudo o que eles têm direito. Quem tá
acostumado a ler B. Pellizzer sabe da capacidade que ela tem de dar uma voz
para cada personagem. A gente nunca precisa ler o “disse fulano” no final da
fala, porque seus personagens têm identidade, coisa difícil de se ver. Num
livro com tantos personagens, pensar-se-ia que isso não aconteceria. Ah! Mas
aconteceu. E não só eles têm identidade, eles têm sotaque. É uma viagem doida demais!
O que o livro tem de extraordinário
O impossível é um conceito inexistente. Quando você pensa
que já viu de tudo, você lê uma cena inimaginável. E isso é já no começo. O
inimaginável mais marcante vem quando o Maldito realiza sua primeira magia no
mundo humano. Ah o dedo de digitar um spoiler bem grande chega a tremer. Que
cena! Que cena!
O que o livro tem que é exatamente igual a qualquer história
O clichezão do livro fica por conta do já batido e rebatido
conceito "não gosto dos humanos, mas depois que passei a conviver com eles,
passei a entender e até a amar". Agora tenho sentimentos e toda aquela coisa.
Não sou contra clichês, de jeito nenhum, eles existem porque
funcionam, e funcionou nesta história também.
O final
Semana passada, a Soninha escreveu um artigo que concluiu dizendo que estava torcendo para a Fernanda ter escrito o final de "A Balada da Bandoleira". Eu fiquei dividida por um tempo, (já falei que sou fã da bandoleira de sobrenome Pellizzer, não falei?), mas confesso que, depois de ler A Balada... precisei concordar com ela.
Obrigada, Fernanda W. Borges, por ser uma alma boa. Eu já te admirava; agora, eu te venero.
Explico:
A B. não tem qualquer apreço pelo emocional do leitor em seus finais. Aquele momento em que o seu coração dá um salto e você abre a boca meio que se perguntando "e agora?", é bem nessa hora que ela termina o livro.
O momento "e agora?" de "A Balada da Bandoleira" aparece quando a personagem que narra revela sua identidade. É aquele momento em que você fica bem assim:
Imediatamente eu olhei para o pé da tela do leitor digital e respirei aliviada: ainda tinha livro pra ler, porque, se o livro tivesse terminado ali, eu teria dado um ataque. Sério.
Com o coração cheio de alegria, eu virei a página.
Tinha uma figura.
Uma figura...
Uma fi-gu-ra, imagem, vetor, uma extensão da tortura.
Vocês não entendem a agonia disso, e eu não ligo se isso for considerado spoiler, porque eu preciso que vocês saibam: não há necessidade de sofrer. Tem mais livro na frente.
Aquele provavelmente foi o final da B. Pellizzer, mas a linda da Fernanda W. Borges nos protegeu deste mal. Amém!
Claro que eu estou conjecturando. Eu não tenho a menor ideia de quem escreveu o quê (apesar de ter tentado adivinhar), o texto está uniforme, irretocável, e o melhor, inclusive no final, quem lê pode ter um pedaço delicioso de cada uma das duas.
A Balada da Bandoleira: High Noon está disponível na Amazon e fazendo o maior sucesso. Chegou às primeiras posições já no dia do lançamento, sucesso mais do que merecido.
Quem curte uma fantasia moderna com uma pitadinha de velho oeste não pode perder.
***
E-book gentilmente cedido pela Editora Raredes. ;)
A Balada da Bandoleira
Amazon
B. Pellizzer
e-Books
Editora Raredes
Fantástica
Fernada Borges
Literatura Brasileira
Resenhas
Romance
Velho Oeste
Postar um comentário
2 Comentários
Deixem seus comentários! Eles fazem nossos resenhistas muito felizes!
ResponderExcluirOlha... vocês fazem cair ciscos nos olhos sensíveis desta autora. Agradeço pelo esmero na resenha, por distinguir tão bem os estilos das duas autoras sequeladas, enfim... fiquei muito feliz, mesmo!
ResponderExcluirDeixe seu comentário ou pergunta. Tentamos responder a todos.