(Resenha) A Cuca - Contos do Folclore Sombrio - Livro 1

Você é um saudosista dos Anos 80? Curte cultura brasileira? É chegado num folclore? Morre de saudade dos bons tempos de Cindy Lauper? Todas as alternativas anteriores? Este é o livro pra você!


Editora Raredes - Marcelo de Lima Lessa

Sinopse


Em 1926, lá pras bandas do Capoeirão do Diabo, uma menina de franja curta e cabelos na altura da bochecha chamada Araceles foi levada de sua casa por uma bruxa perversa de dentes podres e fala difícil. Depois de dois dias trancada numa jaula, conseguiu fugir e aprisionar a bruxa com a ajuda de uma moça que tinha cascos no lugar das mãos. Mas antes de cruzar o Rio da Estrela e da Cruz que a levaria de volta para casa, Araceles ainda teve tempo de ouvir a maldição da bruxa: “Fumaça das trevas, demônios do mal, saiam das chamas e persigam essa tal”.

Sessenta anos depois, a pequena Araceles virou Dona Céles; ainda assim, aquela maldição a alcançou. A bruxa conseguiu se libertar e, como vingança, carregou para o Capoeirão do Diabo sua neta Julinha, deixando para trás um recado na forma de uma rosa azul que permaneceria viva por três dias. 

Doente, sem poder fazer nada mais, Dona Céles entregou a seus outros netos, Pilo, Caloca e Bibi, as únicas coisas que tinha para lutar contra a bruxa: um diário e uma garrafa vazia. E foi assim que o “Trio Furacão” deixou a cidade de São Paulo e se embrenhou pela pequena cidade de Perdões, em busca de uma bruxa que não tinham certeza de que existia para encontrarem sua prima Julinha antes que aquela rosa azul perdesse suas pétalas.


Primeiras impressões


Quem vai ler "A Cuca" logo depois de ler "Gênesis Proibido - A tragédia de Adão e Lilith" (que eu deveria resenhar, mas que é tão bom, mas tão bom, que eu ainda tô pensando em um jeito de falar a respeito), vai estranhar um pouco. O autor, Marcelo de Lima Lessa, viaja por universos completamente diferentes nos dois livros, mas isso não tira o mérito de "A Cuca", pelo contrário, somente mostra a versatilidade do autor.

A história começa em 1926, quando A Cuca sequestra a menina Araceles que, com a ajuda da Mula-sem-cabeça, consegue prender a bruxa, e escapar. Araceles cresceu, apareceu, mudou-se, constituiu sua família, teve filhos e netos e durante todo esse tempo, a Cuca ficou presa no mesmo lugar que Araceles havia deixado, até que chegou o fatídico dia em que ela finalmente conseguiu escapar e, como vingança, sequestrou a neta de dona Araceles.
E aí começa a viagem. Viagem dos personagens que vão em busca da menina, e viagem do leitor por tempos mais simples. Tempos de fitas cassete, de Playcenter (gente de São Paulo, toca aqui!), tempos de "Girls just wanna have fun", tempos em que ser revolucionário era ter o corte de cabelo da Cindy Lauper.
Depois dessa viagem ao passado, existe uma segunda viagem, talvez fosse mais adequado usar a palavra mergulho... um mergulho no folclore brasileiro. A Cuca tem Saci, Curupira, Lobisomem, Matinta-Pereira, enfim, um desfile de personagens folclóricos que a gente não vê se exibindo por aí todos os dias.

Existe muita ação e um lado cômico proporcionado pela "covardia" do personagem Caloca (o meu preferido) que vale a pena conferir.

O que é muito bom no livro


O autor realmente mergulhou no folclore e é possível aprender muito lendo o livro, e quando eu digo aprender, digo aprender no melhor sentido, enquanto está se divertido. Você nem percebe o quanto aprende de sua própria cultura enquanto tá lá rindo do Caloca que foge apressado da Loira do Banheiro.

Os personagens são muito bem construídos, as falas estão perfeitas com os sotaques, a gente até ouve os "bichim" falando.




Momento pelo-amor-de-deus-não-faça-isso-comigo do livro


Gente, eu queria poder contar isso pra vocês sem dar spoiler, mas não posso, mas teve um momento no livro que eu parei, respirei fundo e pensei: por favor, não; por favor, não; por favor, não. Quem já leu, vai entender quando eu disser o nome Malú.

Maluzinha....

Só vou deixar esse recadinho aqui porque, se por acaso o autor viver a ler essa resenha (uma blogueira tem o direito de sonhar), ele precisa saber que não se faz isso com o coração de um leitor.




A Malú, não!


Referências Década de 80




Eu já tenho lá quase (eu disse quase) meus cinquenta anos (mas ainda tô bonitona, juro!), então me identifiquei bastante com essa saudade, mas houve alguns momentos em que o autor pesou a mão. Pra mim, ficou muito claro que o livro era muito um desejo de colocar alguma coisa pra fora, não sei, posso estar errada, mas parecia que ele PRECISAVA mostrar pra gente aquela infância que ele teve e que não necessariamente incluiu aventuras com sacis presos em garrafas, só que entre o sequestro da pequena Julinha e o momento em que o Trio Furacão finalmente a encontrou, algumas referências ficaram deslocadas, tamanha era a vontade que o autor tinha de fazer a gente se lembrar daquelas coisas.


Conclusão

A Cuca, Contos do Folclore Sombrio Livro 1 é um livro diferente e delicioso. Diferente, mesmo. Eu nunca pensei que leria um livro com uma mistura tão bem feita de saudosismo, interior e metrópole. É um Realismo Mágico bem brasileiro, coisa difícil de se ver. Na verdade, eu ainda não tinha visto. Os elementos mágicos/folclóricos são inseridos naquela realidade da Década de 80 e o autor realmente consegue fazer a gente acreditar que aquilo tudo aconteceu.

Então, acho que o jeito perfeito de concluir essa resenha, é com o primeiro parágrafo da história.


"Quem haveria de acreditar na história que eu irei contar? Os acostumados às modernidades do dia a dia, há muito despidos do espírito aventureiro que um dia tiveram, se é que tiveram, talvez me tachassem de louco. Mas a grande verdade é que, nesses rincões perdidos da vida, principalmente os mais afastados, tudo é possível."


Pois é! Quem haveria de acreditar?

Eu acreditei.


O livro nos foi gentilmente cedido pela
Editora Raredes, que acabou de desembarcar no Brasil mas já tem um catálogo nacional lindo, vale a pena conferir.

Agora eu vou lá, ver se aprendo a usar o tal do Instagram que me disseram que todo blogueiro precisa ter hoje em dia.


Dicas?






Postar um comentário

2 Comentários

Deixe seu comentário ou pergunta. Tentamos responder a todos.