Ascensão do Poeta

Alphonsus de Guimaraens

O poeta deve ter dentro da alma estrelada
Uma deusa que o embale e acarinhe e adormeça:
É a ilusão que lhe vem aureolar a cabeça,
Suavizando-lhe a dor com os seus dedos de fada.


Quer surja a aurora, quer por entre as sombras desça
A noite, haja o clamor da vida, ou a paz sagrada
Da morte, — ela que é a fonte, o bem, a bem-amada,
Dá que a palma estival do sonho resplandeça.


E o mundo, que é o sinistro ergástulo de treva,
Transforma-se na irial mansão donde se eleva
A prece que há de um dia aos pés de Deus chegar...


E aos astros de tal modo o Poeta ascende em calma,
Que o céu fica menor do que o azul da sua alma,
E nem cabe no céu a luz do seu olhar...

ALPHONSUS DE GUIMARAENS

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